Tito Damazo
O mar
contido em seu lugar
é de ninguém,
acolhe
expele
engole
quem aventure pôr-se
dentro ou sobre
sua imensa massa
d’água salobre.
O mar
latifúndio sem par,
viveiro abismal,
vitaliza
com seu tempero de sal
miríades de vida
sobre, sub-
mersas.
O céu
que o encima
cujo infinito
presunçosamente imita
é que decerto
lhe ensina
a ser
esse latifúndio de ninguém
e sem par
com seu destamanho
de não se mensurar.
Esse sidéreo,
sem aquém
sem além
em cujo vácuo
solitários vagueiam
inimagináveis astros
como se seu lastro.
Ainda assim
o mar,
esse colossal
abismo d’água,
mínimo ante
aquela disformidade
tamanha
e incapaz de nome,
se põe feito
atrevido menino
a mirar-se
na infinitude
daquele latifúndio
que decerto sequer
o enxerga.
Araçatuba (SP), Natal de 2020